Dólar mais alto favorece a competitividade

Dólar mais alto favorece a competitividadeCrescimento em torno de 3% na economia brasileira, aliado a um controle da inflação e à queda na taxa de juros. Esta é a expectativa de Antônio Corrêa de Lacerda, diretor da área de economia da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica) para o ano de 2004.

Doutor em Economia pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), professor da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e presidente da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica), Lacerda explica inclusive que a cotação do dólar tende a ser mais alta nos próximos meses, o que favorece a competitividade das empresas nessa era globalizada.

Para explicar conceitos como esse e as discussões fundamentais da área macroeconômica, ele lança em novembro o livro Globalização e Investimento Estrangeiro no Brasil. Nele, o autor mostra diversos dados e exemplos, retratando a realidade brasileira, tendo como base os recentes censos de capitais estrangeiros realizados no Brasil. Lacerda também analisa a política da reestruturação produtiva da economia brasileira, com destaque para a abertura da economia e a implantação do Plano Real nos anos 90, bem como o papel da privatização nesse processo, culminando com a discussão sobre os elementos para um novo modelo de inserção externa da economia brasileira.

“Lacerda demonstra de forma lúcida como a economia brasileira foi enredada na armadilha da vulnerabilidade externa. Ao compreender os fatores determinantes das decisões de investimento, especialização e comercialização das empresas estrangeiras e de suas subsidiárias operando no Brasil, o trabalho do autor sugere pistas muito úteis para os desafios com que se defronta a política econômica brasileira”, afirma Luciano Coutinho, Ph.D em Economia pela Universidade de Cornell e professor titular da Unicamp. Leia a seguir a entrevista concedida ao site Manutenção & Suprimentos.

Manutenção & Suprimentos – Quais são os efeitos da globalização?

Antônio Corrêa de Lacerda – A globalização traz muitas oportunidades a um país, principalmente em relação às exportações e ao ingresso de novas empresas com investimentos estrangeiros. Se não houver globalização, não haverá competitividade. O risco que ela pode gerar é a perda de controle de autonomia do país, porque vários patrimônios se transferem para o exterior. É de fundamental importância no cenário econômico atual compreender o papel dos investimentos diretos estrangeiros e da globalização na economia brasileira, sobretudo pela inserção externa do País e pela expressão sem precedentes na história do capitalismo mundial dos ativos financeiros, do câmbio e da vulnerabilidade externa.

M&S – Que mudanças as empresas precisam fazer para serem globalizadas?

Lacerda – A questão fundamental é que cada empresa precisa adquirir condições de competitividade de forma global, investindo sempre em inovação e em treinamento para permanecer em seu mercado de atuação.

M&S – É correta a expressão “ser global, mas atuar localmente”?

Lacerda – Sim, é correta a expressão. É preciso atuar dessa maneira, agindo localmente. Precisamos ter uma forte base para atuar localmente de forma expressiva no mercado.

M&S – Como as empresas brasileiras estão em relação à globalização?

Lacerda – De forma geral, as empresas estão reagindo bem porque o processo de globalização já vem acontecendo há cerca de uma década. Mas o alto nível dos juros e a carência de financiamento existentes no Brasil são fatores que tiram a competitividade das organizações.

M&S – Que balanço o senhor faz da economia brasileira desde a “Era do Real”?

Lacerda – Acho que houve um ganho expressivo desde então. Tivemos a queda da inflação, e o desafio foi ampliar a competitividade entre as empresas e também aumentar as exportações.

M&S – Até o momento, quais as diferenças percebidas entre o governo de Fernando Henrique Cardoso e o de Luiz Inácio Lula da Silva?

Lacerda – Vejo que em alguns aspectos são atuações bem diferentes, como no caso da política externa. No governo Lula, a diferença é com relação ao pragmatismo, onde se encara a chance de desafio sem ideologias. Mas ainda é cedo para fazermos comparações, principalmente porque não podemos comparar 8 anos de governo FHC com cerca de 10 meses de atuação do governo Lula. Trata-se de uma análise preliminar, mas que aponta essa diferença.

M&S – De acordo com a Anne Krueger, do FMI (Fundo Monetário Internacional), há uma tendência de alta do dólar, que pode ficar acima de R$ 3,00. É um valor sustentável para o Brasil?

Lacerda – Sim, o dólar acima de R$ 3,00 é considerado uma boa cotação. O valor praticado no momento, abaixo de R$ 3,00, é insustentável porque o Real está valorizado. O valor que eu considero bom para o Brasil é de um dólar sendo cotado a R$ 3,10 ou R$ 3,20. O dólar mais alto atrai mais investidores e, conseqüentemente, traz mais competitividade ao Brasil.

M&S – Qual é o cenário econômico que o senhor espera para 2004?

Lacerda – Acredito que a economia brasileira irá crescer no ano de 2004 mais do que cresceu neste ano de 2003. A expectativa que tenho é de um crescimento em torno de 3% para o próximo ano, com uma inflação controlada e com uma taxa de juros em queda, o que deve melhorar o nível de renda da população e aumentar o número de postos de trabalho.

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