Engevix, a ‘dona do X’ antes de Eike

Eike Batista, o maior bilionário brasileiro, deu fama à letra X como um amuleto da fortuna – todas as empresas de seu conglomerado, como se sabe, exibem o X como um multiplicador de cifrões. A Engevix, de serviços de engenharia, também tem relação íntima com a letra mágica de Eike, mas não credita a ela poderes sobrenaturais – e segue multiplicando suas frentes de atuação.

“Usamos o X antes do Eike”, brinca Cristiano Kok, presidente da empresa. Nascida há 46 anos para ser o braço de engenharia da empreiteira Servix – “engenharia da Servix” deu origem ao nome Engevix –, a companhia encabeça hoje um grupo que fatura cerca de R$ 2 bilhões por ano e que atua em quatro grandes frentes de trabalho: energia renovável (com a Desenvix), construção de navios e plataforma de petróleo para a indústria de óleo e gás (Ecovix), infraestrutura (Infravix) e projetos, por meio da Engevix Engenharia.

A empresa ganhou os holofotes na semana passada após vencer (com a parceira argentina Corporación América, com a qual formou o consórcio Inframérica) o leilão de concessão do aeroporto de São Gonçalo do Amarante (RN), o primeiro a passar por um processo do gênero no País. Mas a área de concessões públicas, que pôs a empresa na ribalta, é ainda a de menor receita no grupo. O avanço mais imediato da companhia deve ocorrer em outros de seus tentáculos.

A Desenvix, que deve faturar R$ 120 milhões neste ano, vislumbra receita de R$ 250 milhões em 2012. Sob seu guarda-chuva estão a participação em inúmeras hidrelétricas, pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e em usinas eólicas, muitas delas com início de operações previsto para os próximos meses.

Mas os horizontes são mais ambiciosos. Capitalizada depois de a norueguesa SN Power comprar por R$ 706 milhões uma fatia de 40,65% da empresa, a Desenvix avalia no momento uma carteira de potenciais investimentos que somam adicionais 2,5 mil megawatts – capacidade de geração de energia equivalente à da Hidrelétrica Paulo Afonso IV, no rio São Francisco, uma das dez maiores do País.

A meta é que, somados, os projetos de geração da Desenvix (da qual a Engevix também tem fatia de 40,65% e o fundo de pensão Funcef, de 18,7%) atinjam mil megawatts em cinco anos, capacidade similar à da Hidrelétrica Estreito, no rio Tocantins. Sua capacidade total hoje é de 162 megawatts, e adicionais 150 entrarão na conta ainda neste ano. “A um preço de R$ 4 mil por megawatt, seriam uns R$ 2,5 bilhões em investimentos no programa”, afirma o executivo.

Construção que avança, receita que sobe

Também a Ecovix deve dobrar sua receita entre 2011 e 2012, elevando-a para R$ 500 milhões, segundo as projeções do grupo. “Ela está construindo os navios. A receita vai sendo apropriada à medida que a construção avança”, diz Kok. “Esse primeiro ano foi para comprar chapas, montar a fábrica de soldas, contratar gente”. A empresa, que comprou em 2010 o Estaleiro Rio Grande, localizado na homônima cidade gaúcha, tem hoje pouco mais de 700 funcionários, mas prevê cinco mil quando chegar ao auge de suas atividades.

A área de engenharia da Engevix, que faturou R$ 1,5 bilhão no ano passado, deve ter pequena queda neste ano e não deve crescer em 2012, avalia Kok. “Este é um ano de ajuste no mercado. Todos os custos subiram muito, em um movimento que seguiu o aumento da renda”, afirma, em uma análise que difere do senso comum do crescimento desenfreado desse segmento. “Mas o ajuste é positivo”.
O grupo deu um salto gigante em 2008, quando venceu uma licitação para implantar a infraestrutura do polo de tratamento de gás natural Cacimbas III, em Linhares (ES). O contrato, de R$ 1,3 bilhão, foi o maior assinado pela companhia até então.

Nada ruim para uma empresa que, em 1997, faturava R$ 30 milhões. Foi naquele ano que Kok, Gerson de Mello Almada e José Antunes Sobrinho, executivos da Engevix, fizeram uma oferta para comprar a empresa, então controlada pela Rossi – que incorporou a Engevix em 1970, ano em que comprou a Servix.

Fazendo contas

À diversificação vivida desde 1997 então foi incorporado o aeroporto potiguar, outro dos projetos da Infravix. É fato que houve críticas para o valor oferecido pelo consórcio – foram R$ 170 milhões, montante 228,82% superior ao valor mínimo de outorga estipulado no edital, de R$ 51,7 milhões. Mas a empresa diz ter feito um bom negócio. “Fizemos as contas com base na demanda atual, de 2,8 milhões de passageiros por ano”, diz Kok.

A Infravix já é também uma das integrantes da Viabahia, consórcio que administra os 680 quilômetros da rodovia Rio-Bahia que estão em território baiano e abrangem trechos das BRs 116 e 324. A Infravix pode ser unidade de menor receita nos negócios do grupo, mas é também uma das frentes mais avançadas no processo de diversificação: está em seu portfólio ainda o projeto do conjunto habitacional com mais de cinco mil residências previsto para o município de Rio Grande, que, espera-se, supra a demanda por residência à medida os novos funcionários do estaleiro forem chegando à cidade.

A Engevix já teve planos de abrir seu capital, que foi abortado com a crise global de 2008. Depois, o projeto era de abrir o capital apenas da Desenvix – mas também este foi posto de lado. Agora, o grupo segue a vida sem ideias imediatas de lançar suas ações na BM&FBovespa. E mais uma vez, com bom humor, há um paralelo com o homem mais rico do País. “Acho que fazemos o oposto do Eike”, diz o presidente Cristiano Kok. “Ele faz IPOs para depois criar a empresa. Nós criamos a empresa e depois fazemos o IPO”.