Indústria paulista deixa para trás os efeitos mais sangrentos da crise

O desempenho geral da indústria paulista ainda está 2,6% abaixo do nível anterior à crise financeira, que eclodiu em outubro de 2008, mas os números do Indicador de Nível de Atividade (INA) apurado no mês de fevereiro pela Fiesp e o Ciesp mostram que a recuperação total deverá ocorrer ainda no primeiro semestre deste ano.Segundo a pesquisa divulgada nesta terça-feira (30) pelas entidades, a evolução de fevereiro sobre janeiro alcançou 1,1% com ajuste sazonal, o maior percentual desde novembro de 2008, auge da crise. Sem ajuste, o crescimento foi de 0,4%.

Guinada

Outras duas bases de comparação mostram o vigor da indústria: o acumulado do ano atingiu 15,4% (janeiro e fevereiro) e é o maior da série histórica da pesquisa, desde 2003, levando em consideração que no ano passado esses meses tiveram fraco desempenho. Já o acumulado nos últimos 12 meses ainda é negativo em 3,6%, mas a tendência é que esta variação atinja rápido o nível zero.

“O efeito comparativo já configura altos percentuais de crescimento, porque a base de comparação está se livrando dos efeitos mais sangrentos da crise. Estamos em vigorosa recuperação”, avaliou Paulo Francini, diretor-titular do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depecon) da Fiesp/Ciesp.

Variáveis

Mesmo com um salto de 16,2% na atividade industrial em fevereiro, sobre o mesmo mês de 2009, o nível de utilização da capacidade instalada (Nuci) ficou estável em 76,3% nesta base de comparação (dado sem ajuste sazonal).Por trás deste efeito, segundo Francini, a combinação de duas variáveis: o aumento da capacidade produtiva, com a maturação dos investimentos feitos a partir do segundo semestre de 2009, e também da produtividade perdida com a crise. Ou seja, produzir mais com o mesmo número de horas trabalhadas.

“A corrida pelo reequipamento da indústria há de bater recordes em 2010, que será um ano comparativamente histórico para o aumento de capacidade produtiva”, afirmou Paulo Francini.Para o diretor, o grande estímulo vem do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), operado pelo BNDES. Criado em junho de 2009 e inicialmente previsto para terminar em um ano, o programa foi prorrogado até 31 de dezembro e tem o objetivo de estimular a antecipação de investimentos por parte das empresas.

“O nível de utilização da capacidade sofrerá esse impacto positivo ao longo do ano. Entre a decisão de investimento e o aumento da capacidade produtiva vão aproximadamente quatro meses. Isso indica que teremos um período continuado de crescimento, e ganhos adicionais de produtividade, porque os investimentos se espalham e têm maturações distintas”, explicou Francini.

Cenário pós-crise

No total da indústria, o acumulado em 12 meses ainda é negativo (-3,6%), mas sete setores já ultrapassaram o nível zero no desempenho isolado. Despontam produtos químicos e alimentos e bebidas.Na outra ponta, os últimos 12 meses ainda são piores que os 12 meses anteriores para nove atividades industriais que compõem o INA. O setor de máquinas e equipamentos aparece em último, porém, apesar de ter sofrido forte queda com a crise, tem uma das melhores taxas de recuperação.

Outro cenário traçado pela Fiesp/Ciesp mostra que seis setores já deixaram para trás os efeitos negativos, e tiveram em fevereiro um desempenho superior em relação a setembro de 2008, último mês forte antes da crise financeira. São eles:

– Alimentos e bebidas (12,5%);
– Outros equipamentos de transporte (11,8%);
– Produtos químicos (10,4%);
– Celulose e papel (7,3%);
– Máquinas, aparelhos e materiais elétricos (7,3%);
– Móveis e indústrias diversas (2,6%).

Expectativa

O Sensor Fiesp, indicador que mede a percepção dos empresários quanto ao ambiente de negócios, alcançou em março um dos melhores resultados da série, iniciada em junho de 2006: 57,7 pontos.Descontadas as boas pontuações obtidas nos meses finais do ano passado, em função da retomada pós-crise, resultado semelhante só apareceu em abril de 2008 (57,5).

Entre as variáveis, o emprego atingiu um dos melhores níveis da série (60 pontos). Investimento (57,3), mercado (60,9) e vendas (58,3) seguem em alta, enquanto o estoque apresenta-se ligeiramente abaixo do desejável.”O Sensor está bombando, o que nos garante a continuidade do processo de recuperação do crescimento da indústria nos próximos meses. Temos um céu de brigadeiro à frente”, sinalizou o diretor de Economia da Fiesp/Ciesp.

As entidades apostam em um crescimento de 13% para o INA em 2010. Francini acredita que a recuperação da exportação nacional de produtos manufaturados, que deverá ficar em torno de 20% (diante dos 26,6% perdidos em 2009), será um fator impulsionador desse resultado.

Federação e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP/CIESP)

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