Planos de Steinbruch para a CSN ser a nº 2

O empresário Benjamin Steinbruch, dono e presidente da Cia. Siderúrgica Nacional (CSN), reuniu ontem os analistas do mercado de capitais para falar do balanço do primeiro trimestre, que trouxe um lucro de R$ 767 milhões. Mas ele gastou a maior parte das três horas para anunciar novos planos de expansão em logística, mineração de ferro, aço e cimento… e fazer muitas promessas. Uma delas é tornar a CSN a segunda maior siderúrgica em valor de mercado do mundo até o início de julho, pulando do quinto lugar hoje, segundo um ranking divulgado por ela. Ficaria atrás apenas da gigante ArcelorMittal, que valia mais de US$ 134 bilhões.

Para isso, será preciso elevar em quase US$ 10 bilhões o valor que a CSN tinha em 6 de maio, para US$ 45 bilhões, em menos de dois meses. “Estamos alguns bilhões perto da Posco (empresa coreana), que era a segunda, com US$ 44,2 bilhões”, afirmou. Assim, deixaria para trás a russa Evraz e a japonesa Nippon Steel.

Steinbruch justificou que isso é facilmente possível, considerando as potencialidades da sua empresa e a subavaliação que ainda considera como os investidores olham seus ativos. “A CSN terá o segundo melhor trimestre de sua história”, disse. Segundo ele, a empresa se beneficiará de aumentos dos preços do aço, de até 15% em março, de outro reajuste similar a partir da próxima semana, da compra de insumos, como carvão e coque, a preços antigos, antes da alta de mais de 200% que vai vigorar a partir de julho, e do crescimento das vendas de minério de ferro a partir de abril.

A siderúrgica tem plano de vender neste ano no exterior e Brasil quase 30 milhões de toneladas de minério de ferro, extraídas da mina Casa de Pedra e de outras adquiridas no ano passado. “Nossas margens de ganhos nesses negócios são extraordinárias. Casa de Pedra dá 70%, a Namisa [outra mineradora da CSN], 60%, a área de logística, 50% e a de aço entre 40% e 50%”, destacou.

Por isso, o empresário disse que o grande alvo de investimentos da CSN nos próximos anos é o Brasil. Depois de algumas tentativas frustradas de aquisições nos EUA e Europa, onde já tem operações pequenas de acabamento de aço, nos dois últimos anos, ele agora disse quer crescer aqui, aproveitando a expansão econômica do país. Há espaço para negócios em logística – terminais portuários para contêineres e carga geral -, da construção civil, com demanda de aço e cimento, além do minério de ferro, principalmente para exportação.

Nesse cenário, a empresa anunciou ontem investimento de US$ 2,23 bilhões em novo terminal portuário, em uma área de centro de apoio logístico e na expansão das operações existentes hoje de seu complexo portuário na baía de Sepetiba, no município de Itaguaí (RJ). O projeto inclui a construção de novo terminal, chamado Lago da Pedra, que avançaria mar adentro. O centro de apoio, na forma de condomínio, para contêineres e cargas gerais, ficaria em uma área de 850 mil metros quadrados, já de propriedade da CSN. O investimento em ambos soma US$ 1 bilhão.

Outro tanto de dinheiro será posto nas expansões do terminal de contêineres, o Tecon, que mais que duplicará, e no de carvão, o Tecar, por onde é exportado minério de ferro hoje. O argumento é que a capacidade de embarque de contêineres no Brasil já está quase esgotada, no nível de 8 milhões de TEUs (um TEU equivale a um contêiner de seis metros) e a demanda projetada para 2010 varia entre 10 milhões e 12 milhões de TEUs. “Nosso projeto tem a vantagem de estar num raio de 500 km da concentração do PIB brasileiro e na região Sudeste, onde há o maior gargalo nessa área”, afirmou Davi Emery Cade, diretor de portos.

Esse investimento, no entanto, tem o foco bastante voltado para a área de mineração da CSN, que se tornou a “menina dos olhos” de Steinbruch em função dos elevados níveis de rentabilidade do negócio. “Acho que nas negociações do preço de minério de ferro para 2008 foram deixados na mesa pelo menos 30%”, afirmou o empresário. Segundo ele, o reajuste, na média de 75% (entre minério fino e pelotas), acertado pela Vale, deveria ter sido de pelo menos 100%. “As australianas ainda estão brigando por reajuste maior e os aumentos no carvão foram acima de 200%”, observa.

O plano da CSN é poder ampliar sua capacidade de exportação de minério de ferro, que saltaria para 160 milhões de toneladas no porto. É isso mesmo. O patamar de 100 milhões de toneladas, recentemente anunciado, agora já é uma meta do passado. E a ambição da CSN, agora, não é mais ser a quarta mineradora de ferro do mundo – atrás de Vale do Rio Doce, de Rio Tinto e de BHP Billiton – mas a terceira, como declarou o diretor executivo de mineração da empresa, Juarez Saliba.

No negócio de aço, que ainda responde por quase 90% da receita líquida da CSN – obteve recorde de R$ 3 bilhões no primeiro trimestre deste ano -, os planos e cronogramas, que mudam a cada apresentação aos analistas de bancos, também são ambiciosos. “Vamos produzir mais 11, 5 milhões de toneladas até 2014”, informou Steinbruch. Ele listou um novo forno em Volta Redonda, que entrará em operação antes, em 2011, 4,5 milhões de toneladas em Congonhas-MG (previsto para 2012) e mais 4,5 milhões de toneladas em Itaguaí, em 2014.

Acelerar a oferta de aço no país faz sentido para todos do setor. Siderúrgicas locais já começam a importar aço para atender a demanda interna e incremento de oferta, em material plano, só tem um da ArcelorMittal, na antiga CST e na Vega do Sul, em 2009. A expectativa é que faltará alguns tipos de produtos, como chapa laminada a quente (usada em autopeças, botijões de gás, construção civil) a partir de 2010.

“A CSN tem algumas ociosidades de capacidade na usina de Volta Redonda que poderá ser bem aproveitada”, afirmou o empresário. Em função disso, ele quer acelerar a construção do novo alto-forno para usina, que ficaria pronto em três anos, apto a fazer de 1,5 milhão a 3 milhões de toneladas anuais. A dúvida existente hoje é se produzirá chapas ou aços longos. “Vai faltar BQ [bobina plana a quente]”, avisou Eneas Garcia Diniz, diretor-executivo de produção de Volta Redonda, a Steinbruch na reunião com analistas, cuja presença da imprensa foi vetada. Sem justificativa, uma vez que o evento foi transmitido ao vivo pela internet.

Com esse portfólio de projetos, ressaltou o empresário – que garante estar cumprindo tudo que prometeu aos investidores da empresa desde 2002/2003 -, a CSN tem condições de dobrar seu valor de mercado, para US$ 90 bilhões, até 2012. Para ele, o foco é o Brasil. Investir no exterior, só se for algo muito estratégico ou de alto retorno. Algo quase impossível ante as margens que consegue por aqui.