Transferência de tecnologia envolve competência e também parceria

A data é oportuna [19 de abril, Dia do Índio] para debater ações efetivas em prol da Amazônia e sua sustentabilidade. A frase dita por Walter Lazzarini, presidente do Conselho de Meio Ambiente (Cosema) da Fiesp, deu o tom inicial ao evento “Perspectivas do Projeto Butantan – Amazônia para Indústria Brasileira”, realizado nesta segunda-feira (19), na sede da federação.

Contando com diversas fontes de financiamento – BNDES, Fapesp, Finep, Capes e CNPq –, o Butantan é responsável por 90% das vacinas em território nacional e registra produção crescente. Entre suas prioridades, o atendimento ao Programa Nacional de Imunização tem tanta importância quanto a preservação da biodiversidade e a bioprospecção, sendo que esta pode oferecer também oportunidades e possíveis parcerias público-privadas, como destacou o diretor do Butantan, Otavio Azevedo Mercadante, que frisou pontos extremamente sensíveis nesse processo: propriedade intelectual e patente.

“A pesquisa tem o objetivo de buscar autosuficiência, o que envolve a transferência de tecnologia, e aí está o grande desafio. Só há transferência quando existe competência para recebê-la, para abrir essa caixa preta”, analisou Mercadante, ao lembrar a tríplice missão do Instituto: produção de imunobiológicos, pesquisa e desenvolvimento e difusão cultural.

Aplicação prática

Como exemplo, citou os conhecimentos obtidos que resultaram na produção da vacina contra a gripe aviária. O resultado das pesquisas tem aplicação prática no campo farmacêutico, de cosmetologia e de alimentos (humanos e veterinários), um espectro grande de atuação.

Ana Marisa Chudzinski-Tavassi, diretora do Laboratório de Bioquímica e Biofísica do Butantan e pesquisadora do Centro de Toxinologia Aplicada, aprofundou a discussão, ressaltando que o tripé da pesquisa tem como pilares academia, governo e empresas.

O laboratório desenvolve projetos de caracterização de moléculas provenientes de secreções animais, especialmente taturanas, sanguessugas e carrapatos. Em estudo, as moléculas procoagulantes apresentam potencial citoprotetor e alguns resultados obtidos se tornaram patente. Segundo Tavassi, os resultados obtidos demonstram que a pesquisa no Brasil é sólida.

É um campo já consolidado, mas que requer grandes investimentos e tempo para o desenvolvimento das diversas fases que uma pesquisa necessita, como os testes pré-clínicos e clínicos.

Combate à dor

As pesquisas não se restringem à academia ou aos laboratórios e alcançam o cidadão comum. Cerca de 30% da população mundial sofrem de dores moderadas a crônicas e recebem tratamento inadequado, sofrendo com os indesejáveis efeitos colaterais.

A reflexão feita pela pesquisadora Gisele Picolo, à frente do Laboratório Especial de Dor e Sinalização (LEDS), do Butantan, que conta com o apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finepe), aposta em pesquisas de moléculas com ações analgésicas.

Os estudos envolvem aranhas, escorpiões e animais marinhos, por exemplo. Os testes com animais marinhos já apontam aplicações anti-tumorais, antiinflamatórias e analgésicas.

Um exemplo é o Prialt, aprovado em 2004 pelo Food and Drug Administration (FDA), com uso restrito para dores intratáveis em pacientes terminais (câncer e pós-operatório) em função dos seus efeitos adversos.

Solange Sólon Borges, Agência Indusnet Fiesp