Usinas pagam menos pela sucata

Toda cadeia do comércio da sucata está inquieta com a pressão exercida pelas usinas siderúrgicas para baixar, em torno de 20%, o preço de compra do produto, apesar dos preços do aço terem sido reajustados em até 64% neste ano.

Para o Sindicato do Comércio Atacadista de Sucata Ferrosa e não Ferrosa de São Paulo-Sindinesfa, essa situação poderá trazer o desabastecimento de sucata no mercado nacional, pois os beneficiadores não deverão suportar por muito tempo uma redução tão contundente. Também sacrificará os entrepostos que, por seu lado, terão que repassar a baixa para os catadores de sucata – hoje em torno de 1,5 milhão em todo o País – que se sentirão desestimulados a proceder a coleta desse produto, a exemplo do que ocorreu durante a crise de energia.

Elias Bueno, secretário executivo do Sindinesfa, já prevê, além do desabastecimento, a ocorrência de outros problemas econômico-sociais, como supressão da única fonte de sobrevivência dos catadores, permanência de sucata nas ruas e terrenos baldios, comprometendo a qualidade ambiental, podendo, até, haver evasão de divisas desnecessariamente, por eventual importação forçada da matéria-prima.

Números

Os beneficiadores de sucata processam cerca de 580 mil toneladas/mês do produto no País, das quais 520 mil se destinam às usinas siderúrgicas e 60 mil vão para as fundições. O Estado de São Paulo é responsável por 48,8% da produção nacional de sucata e pelo consumo de 24,5% do produto. A sucata de obsolescência (obtida durante a cata de veículos velhos, eletrodomésticos, embalagens, etc) cujo preço chegou a R$ 500,00 em meados de setembro/outubro, está sendo adquirida hoje, no máximo, por R$ 360,00 a tonelada. Conforme Bueno, esses preços garantem ao beneficiador uma margem bruta de 7 a 8% que só serve para cobrir os impostos incidentes sobre a matéria-prima, trazendo, portanto, prejuízos ao beneficiador. O pior, revela Bueno, é que as usinas já ameaçam com novas reduções de preços entre dezembro e janeiro.

Para o Sindinesfa, há uma forte suspeita de que as usinas estão unidas forçando a baixa do produto, pois semanalmente ocorrem as ofertas de compra a preços reduzidos, sempre por duas ou três usinas diferentes e nos mesmos patamares percentuais.

O comércio atacadista de sucata alerta para o fato de que, se as ofertas continuarem em baixa, será inevitável o desinteresse pela coleta na ponta da cadeia, com forte reflexo na vida dos catadores que dependem desse trabalho para sobreviver e o consequente desaparecimento do produto no mercado. Por outro lado, o setor está se estruturando para destinar boa parte da matéria-prima às exportações. No primeiro semestre de 2005, os beneficiadores já poderão contar com a operação de dois equipamentos de processamento de sucata para exportação e, juntos, terão condições de processar 30 mil toneladas/mês, viabilizando a colocação do produto em vários continentes, especialmente o asiático que tem feito constantes consultas aos beneficiadores brasileiros. O preço pago pela sucata no mercado mundial é bem mais atrativo: podendo chegar até US$ 370,00 FOB a tonelada.

Outro fato que preocupa o setor é o processo de verticalização por parte das usinas siderúrgicas (aciaria) e fundições, que poderá comprometer os custos de toda a cadeia do aço.

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