Vale privatizada não parou de crescer

Foram necessários apenas cinco minutos para que a Companhia Vale do Rio Doce arrematasse os 720 quilômetros da Ferrovia Norte-Sul, no trecho entre Açailândia, no Maranhão, e Palmas, no Tocantins. Dona do único lance do leilão, a mineradora pagou o preço mínimo exigido, R$ 1,478 bilhão, e arrematou a maior ferrovia em disputa no País. Vale lembrar que a promessa dessa obra se arrasta desde 1986. Hoje, estão prontos apenas 374 quilômetros da ferrovia, de Açailândia a Araguaína, 160 quilômetros deles nos últimos quatro anos. O desenho total do trajeto soma 1.300 quilometros de Açailandia até o porto de Itaqui em São Luís.

A obra leiloada é essencial. Segundo estudos do governo, é possível que em cinco anos a ferrovia transporte 8 milhões de toneladas, em especial de grãos, com prioridade para soja. Sem esquecer combustível e fertilizantes. É fato, como apontaram diversos especialistas em logística, que a ferrovia “cai como luva” para a CVRD, que já conta com uma bem montada infra-estrutura na região.

O traçado da obra beneficia a Vale, porque a empresa já detém a concessão da estrada de ferro Carajás na direção do porto de Itaqui. No entanto, o governo resistiu a qualquer mudança no traçado da Ferrovia, o que causou o desinteresse de outros grupos, por entender que a Vale tem direito de passagem para chegar a Itaqui, obrigando qualquer concorrente a obter autorização para passar por Carajás.

Desse modo, o debate aberto em torno do preço mínimo para o leilão perde consistência. A companhia vencedora reagiu insistindo que não poderá mais ser chamada de “monopolista”, uma alusão aos processos em curso no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) contra a empresa. Apesar do leilão da ferrovia contar com um único participante final, é correta a visão do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, de que o melhor resultado da licitação “foi ver a iniciativa privada entrando no projeto”. A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff preferiu um tom mais incisivo e menos cauteloso para defender o leilão: “Por que seria ruim? Seria ruim se estivesse vazio”.

O argumento da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF) de que o valor do empreendimento exigia “grandes players porque o retorno é longo” não pode ser esquecido. A concessão implica manutenção e compra de material rodante, não só na construção da ferrovia. Convém não esquecer que o projeto da Ferrovia Norte-Sul data do governo Sarney e a maior parte dela não saiu do papel.

Esse é o ponto que interessa nesse leilão: a obra vai andar. O recurso oferecido pela Vale, o R$ 1,478 bilhão do lance mínimo, já está viabilizado e será quitado em três parcelas, metade em dois meses, um quarto até o final do próximo ano, coincidindo com a entrega do trecho entre Araguaína e Guaraí. É obrigatório lembrar que tais recursos virão do plano de investimento logístico da própria Vale. Quanto a equipamentos, a compra de 550 vagões já está em curso.

Paralelo a essa iniciativa, a CVRD anunciou investimentos de US$ 5 bilhões na construção da Companhia Siderúrgica Vitória, com porto e ferrovia, um empreendimento conjunto com o grupo chinês Baosteel Group Corporation, que deve participar com a maior parte do capital. Uma agência de fomento deve completar a oferta de recurso e pode ser tanto o BNDES como o seu congênere chinês. O que realmente importa nesse novo negócio é que o Brasil passa a integrar com maior poder o cenário mundial siderúrgico, sem esquecer que o Brasil passa a processar o minério aqui, rompendo um quadro de inércia estratégica em que o País é fornecedor preferencial de commodities para os seus parceiros chineses.

Convém não esquecer que nenhum desses projetos sairia do papel com uma Vale do Rio Doce ainda estatal. O poder de investimento da “velha Vale” era próximo de zero. Hoje, apenas, não teríamos um player relevante para bancar essa nova participação do Brasil no cenário mundial de mineração e produção de aço. Os que propõem um plebiscito sobre a reestatização da Vale precisam antes encontrar uma resposta para esse fato. (Gazeta Mercantil)

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